30/03/2015

Ah o brilho do olhar!




Sabe quando uma criança, por coisas bem simples, vibra de alegria?
Sabe aquele brilho do olho que nada pode tirar?
Ah o brilho do olhar!

Do dia 04 até o dia 15 de março de 2015, um mundo de gente viveu de formas diversas, mas sempre de forma intensa, a preparação - semana vocacional - ordenação - primeira missa do Dani. Eu, Jean, também sou esse mundo de gente que viveu esses dias fortes da vida do Dani.

Sim. Do Dani! 

Porque quando falo Dani sinto o perfume do Bom Pastor e, nesse perfume, o homem, padre, jovem, pejoteiro, filho, neto, irmão, amante da vida – Daniel – é um só. Quando falo Dani, posso ousar tocar nas coerências de Deus. Foram dias de tanta vida... 

Primeiro, uma vida de vinte e cinco anos, que é a vida do Dani. 

Anos de casa: de família (que tem muita, mas muita vida pra contar), de quando criança viver atrás do avô... Anos de afetos. 

Anos de formação: de casa até a escola, da escola até Tapera, de Tapera até Passo Fundo. (Por causa da formação dele e de minha formação, foi nesse lugar – Passo Fundo – que nos conhecemos. Mas formação parece pouco. Sim! O que nos uniu e permitiu conhecer foi o amor do Nazareno).

Anos de Evangelho; de casa até a comunidade de São José do Maneador, da comunidade até a Paróquia/Seminário de Tapera, do Seminário de Tapera até o Seminário de Passo Fundo, até a Pastoral da Juventude, até a Paróquia da Conceição, até as Comunidades de Ação Pastoral, até o presídio, até o retorno a Nova Boa Vista e o envio para lugares que não se pode saber... (ah sim, o primeiro deles é Tapejara).

Esses encontros e passos exigem memória. Memória que em mim se faz recente, são apenas cinco anos, mas na vida de tantos/as são memórias de distintas datas.

Em 2011, quando comecei a morar em Passo Fundo, iniciei o acompanhamento da Coordenação Diocesana da Pastoral da Juventude, quando o Joel era o nosso Secretário Liberado Diocesano. Foi dessa forma que conheci o Dani para além da faculdade e para além dos costumeiros encontros de Seminário. Nas reuniões, nos encontros todos, fui conhecendo um Dani desacomodado, sempre na busca de algo a mais, na procura do sentido da vida. Não posso deixar de dizer que, ao mesmo tempo em que conheci o Dani, conheci a Fabi, irmã do Dani, e percebi que a ternura combina com eles. Dois lindos! Sempre me senti bem perto deles. Sempre os senti perto. Sempre senti acolhida em seus braços. Deus sabe disso!

Durante os dias da semana vocacional, no sábado, dia 7, ao meio dia, muitos/as jovens da Pastoral da Juventude, vindos/as de diversas comunidades da Arquidiocese, agregaram-se à equipe vocacional com uma missão específica: passar pelas casas da comunidade da matriz para rezar, conhecer e convidar para a Ordenação do Dani. No fim da tarde, lanche, partilha de vida, de sonhos, de mesa, de alimento. Comunhão! A vida do Dani sempre foi preenchida de PJ e, na reciprocidade, a vida da PJ Arquidiocesana sempre foi preenchida do Nazareno que o Dani carregava em si. 

Pelas 19h rezamos o Ofício Divino da Juventude na matriz com a comunidade. Ouvimos o Dani falar de sua vida e caminhada vocacional, ouvimos os/as jovens partilharem a experiência vivida pela tarde, ouvimos o Rogério e a Neiva, pais do Dani, falarem do filho. Rezamos a vida do Dani. Rezamos suas coerências. Rezamos nossos sonhos conjuntos. Partilhamos o pão cantando que comungar é tornar-se um perigo. Das partilhas da noite do Dani, algumas frases que tocaram: há nele a “sede de uma vida com sentido”. Há na caminhada dele, desde a saída de casa, “liberdade de escolha”. Há, nos passos dados por ele, o “assumir as consequências da opção”. Há um espaço de vida entre “incertezas” e “certezas que fazem buscar ser melhor”.

Da missa de ordenação, memórias: da vida do Nazareno e da vida do Dani. A celebração do brilho do olhar. A celebração do choro alegre. A celebração da festa da vida, feita serviço e doação sincera. Estavam todos lá. O Pai, a mãe, a mana e o mano. A família do afeto. A família do abraço gostoso e apertado. A família do sentido da vida, da vida plena.

Do seu agradecimento, recordo a parte final: “Eu te agradeço Senhor tudo o que fez, mas continua fazendo por amor. A Teu convite e missão – “Vem e segue-me!” – dou meu sim. Te seguirei! Quero ser instrumento em tuas mãos! Por isso, conduz meus passos, ajuda-me a ser teu servidor, a seguir fielmente ao Bom Pastor. Sou frágil, sou pecador. Conserva-me na fidelidade ao teu projeto e em minha resposta. Me envolve em teu amor e ensina-me cada palavra certa! Que eu possa ser sinal de vida principalmente a quem mais precisar. Eu vim para que todos tenham vida, vida em abundância. Com dignidade. Com vitalidade. Com o sentido verdadeiro. Amém.”

Conhecendo o Dani, o chão que seus pés tocaram e aquilo que jorrava dele nos dias que precederam sua ordenação, é possível afirmar que dele exalava uma vida de coerência ao seu projeto de vida. Como me fez bem participar com o Dani e toda sua família desse momento de síntese da sua caminhada e envio para a nova missão que lhe foi confiada na certeza de que, estando nas mãos do Bom Pastor, nada, nada nos falta! Por isso o compromisso. Por isso a doação de vida. Por isso servir os/as irmãos/ãs. 

Por fim, depois de tanto vivido, de tanto sentido, de tanto celebrado, o coração ficou um pouco lá pelos lados do Maneador. Não há como negar isso. Porém, ao deixar-se um pouco por lá, esse coração restaurou-se nas partes ausentes. Aprendeu de afetos, de abraços. Aprendeu do perfume de Deus. Aprendeu do serviço. Aprendeu a sentir com as mãos a fácil dificuldade das coerências, das consequências da opção. Aprendeu da voz do Dani que “estamos juntos, caminhando, no cuidado da vida”.

Por Jean Carlos Demboski,
seminarista da teologia da diocese de Erexim.